Bar de Praia

Sentei-me num puff vermelho à frente de Ash e esperei que viessem até nós.
-Fazem hamburgers? - O empregado assentiu - quero... dois à sua escolha. - Olhei Ash. - Eu não me vou esquecer.

O empregado olhou para mim.
- Não quero nada, obrigada.
Virou costas pouco depois, ficando com um triunfo na mente por ''uma vampira ter falado consigo'' (foi o que li nos seus pensamentos).
Revirei os olhos a Matt:
- Está bem.

Suspirei enquanto esperava pelo meu pedido.
-Ash - voltei a chama-la - O que queres dizer..- respirei fundo quando vi o empregado a trazer-me um hamburguer. - Eu pedi dois! - Resmunguei-lhe.
-Está a fazer - disse ele olhando para mim com medo. Levei à mão a cabeça e tentei acalmar-me. Mas foi em vão quando senti o meu ombro a deslocar-se novamente. Olhei para o céu e vi que estava novamente a escurecer. Não me tinha apercebido que as "escondidas" de Ash tinham demorado tanto tempo. Levei a mão ao meu ombro e gemi com dores.

Fiz um sinal ao empregado para se afastar, dizendo que voltava-mos já. Paguei para que percebesse que não estava a brincar e puxei Matt até à areia, numa parte não iluminada com luzes fortes.
- Matt... - chamei-o, aproximando-me dele e rodeando o seu pescoço com os braços; olhei-o nos olhos de forma intensa. - Amor... Acalma-te. - disse-lhe. - Tu tens de te acalmar...
Mexi-lhe levemente no cabelo, continuando a olhá-lo intensamente.

Abanei a cabeça olhando-a nos olhos.
-Eu vou estar bem daqui a nada, tu viste o que aconteceu ontem - mumurei lembrando-a. Aquilo a cada dia estava pior. Olhei para o relógio e mais uma vez algo em mim que nem sei dizer bem onde partiu-se fazendo-me cair. Gritei cerrando os punhos com a cara já cheia de areia.

- Matt... - gritei, apesar do grito ter sido abafado.
Levei o pulso à boca e mordi-o, levando-o na sua direção e colocando-o na sua boca:
- Bebe, por mais nojento que seja, Matt. Não te quero perder. Não agora e assim...

-Isto passa, eu juro - murmurei com uma dor de costas pior que as dos outros dias. Sentei-me na areia cheio de fome e cerrei os dentes. O meu ombro parecia deslocado ou partido, não conseguia perceber e a última coisa que estalou tinha sido a minha perna direita.

- Bebe... - choraminguei, voltando a aproximar o meu pulso dos seus lábios. - Por favor...
Sentei-me à sua frente, encostando o meu pulso aos seus lábios e vendo o sangue cobrir-lhe os mesmos.

Mais algo estalou mas fiz de tudo para não me queixar e assustar Ash, infelizmente ela conseguia ouvir a minha mente e deve ter-se apercebido.
Ela praticamente me enfiou o sangue dela na minha boca e eu passei a minha lingua pelo seu corte. Eu sabia que muitos humanos bebiam de vampiros e que sabia bem, por isso não fiquei impressionado.

Passei-lhe a mão livre pelo cabelo enquanto o sentia sugar-me um pouco de sangue, vagarosamente. Gemi com os lábios cerrados.
- Meu Deus... - disse baixinho com um gemido a seguir-se.

Parei pensando que a estava a magoar, mas depois reparei melhor na sua face cheia de prazer. Aproximei-me dela e beijei-a agarrando-a pela cabeça. Afastei-me ao seu sentir a minha outra perna de seguida com o o outro ombro e por momentos fiquei sem conseguir respirar formando uma bola na garganta. Quando me senti em condições olhei Ash - isto não vai parar - murmurei olhando com cuidado para o relógio, já passava das horas.

Passei-lhe a mão pela face e reparei que o meu pulso sarara; fiquei chocada.
- Tu... consegues cicatrizar-me. Como é que isso é possível?! - olhei-o.
Aproximei-me dele e deitei-o cuidadosamente sobre a areia, debruçando-me sobre ele para o beijar.

-Ash - disse baixinho com dores - porque disseste aquilo, na floresta? - Temei - Diz-me - pedi-lhe enquanto ouvi o meu ombro estalar mais como se se estivesse a partir vezes e vezes sem conta.

Passei-lhe as mãos pelos ombros com um olhar pensativo:
- Porque as mentes dos humanos são mesmo muito fáceis de ler. As mentes e as emoções. E a tua mudou de repente quando te queixaste. E cada vez que cada osso teu estala, a tua mente torna-se mais complexa... - expliquei-lhe. - Pelo que o Sam me disse, isso só me aconteceria com lobisomens ou metamorfos; mas tu não és uma coisa, nem outra.
Suspirei e ouvi os seus ossos estalarem novamente.
- Matt... - disse-lhe. - Os teus pais são lobisomens ou assim? - perguntei-lhe seriamente.

Estremeci com a ideia.
-Não, o meu pai morreu quando eu tinha seis anos e a minha mãe é uma pessoa normalíssima. - Algo novo começou a partir-se e por ser a primeira vez doeu como o inferno. Os meus pés moviam-se sem o meu concentimento e pareciam deformar-me. Cerrei os lábios olhei para as estrelas.

Estremeci ao ver o início da sua transformação.
- Matt... Despe-te! - ordenei rapidamente, afastando-me dele.
- Despe-te e deixa acontecer...
Quem me ouvisse naquele momento pensaria outras coisas.

-O quê? - Perguntei confuso mas depois algo passou na minha cabeça - Não, Ash, eles são normais, eu - gritei a ouvir novamente um estalo segundo de uma dor - eu não posso ser... - a minha voz apagou-se quando foi a vez da minha coluna. Fiquei algum tempo sem respirar com olhos esbugalhados e cego, mas quando isso passou gritei como nunca tinha gritado em toda a minha vida. Oh meu deus, eu vou morrer aqui.

Aproximei-me dele ao ver o seu pânico.
- Matt... - disse com a voz baixa e calma. - Deixa que aconteça ou terás dores. Não morrerás, bebeste do meu sangue! É apenas uma transformação que, incrivelmente, me está a mexer com o sistema a mim também.
Tirei-lhe a roupa, colocando-a na areia; sentei-o calmamente.
- Deixa acontecer, Matt.

-Não - murmurei e senti a minha coluna encaracolar, apertei a mão de Ash - Não, eu não quero. Vou ficar assim, isso deve acabar por passar.

Vais obrigar-me a enfurecer-te, mesmo?! inquiri para mim mesma.
Respirei fundo e sacudi a sua mão.
- Matt... Eu não era virgem e estive a gozar contigo o tempo todo. O meu namorado até já me fodeu por trás e acha-te um enorme cabrão.
Comecei a vê-lo tremer e continuei a dizer coisas do género para que ele se transforma-se de uma vez. Senti-me mal por estar a mentir-lhe.

Olhei para ela completamente fora de mim afastando-me dela.
-O QUÊ? - gritei tanto por causa das dores como por causa das mentiras dela. Caí na areia contorcendo-me com lágrimas nos olhos e de um momento para o outro já não era eu.

Acabou por se transformar num lobo branco completamente furioso.
Deixei-me cair sobre a areia, começando a chorar silenciosamente. Tinha medo que ele estivesse furioso comigo. Talvez tivesse sentido que aquilo era mentira mas, mesmo assim, estivesse magoado e furioso.
Fiquei silenciosa com a cabeça apoiada nos braços e os braços nos joelhos dobrados; estava debruçada sobre mim mesma, sentindo lágrimas avermelhadas saindo-me dos olhos.
- Desculpa... - murmurei. - Mas tive de dizê-lo!